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Dia da Mulher no Ballet

Dia da Mulher no Ballet

O Dia da Mulher é o momento ideal para lembrarmos das mulheres que quebraram barreiras para que nós, hoje, pudéssemos chegar onde estamos. ⁣

No ballet, não podia ser diferente.⁣ Vamos conhecer algumas delas?

Mlle. de Lafontaine e a conquista dos palcos

⁣Nos primórdios do ballet, lá na época da corte do rei Sol, as mulheres eram proibidas de se apresentar em teatros públicos. Os papéis das mulheres eram sempre interpretados por homens.

Até que, em 1681, a corajosa Mlle. de Lafontaine ousou desafiar a tradição. Infelizmente, não temos uma foto dela, nem sabemos seu primeiro nome, mas sabemos que com sua atitude de subir num palco público para dançar — e dançar muito bem, pelo que temos documentado — ela abriu caminho para todas as mulheres que dançaram para uma plateia desde então.⁣

Marie Sallé e os novos (e audaciosos!) figurinos

Em 1700, as mulheres já estavam frequentando os palcos (obrigada, Mlle. de Lafontaine!), mas ainda eram obrigadas a usar figurinos pesados e restritivos. Qualquer tipo de drama realístico ou expressividade era impossível, e os movimentos ficavam muito limitados.

Marie Sallé foi uma bailarina talentosa, graciosa e de estilo modesto, mas sua forte rejeição às convenções surpreendeu o público de ballet nos anos 1730. Ela dançava com movimentos e gestos naturais, introduzindo o drama e o realismo.

Sallé abandonou as máscaras que eram sempre usadas para esconder as expressões faciais na época e, o que foi mais chocante: em sua própria produção de Pygmalion, usou apenas uma túnica de musseline, no lugar das grandes saias, e dançou usando seu próprio cabelo, solto e fluindo livremente, ao invés de uma peruca.

Foi uma sensação, um escândalo e um enorme sucesso. Suas ações inspiraram Jean-Georges Noverre, bailarino e coreógrafo que, em 1760, criou o ballet d’action, que unia música, figurino, cenário e coreografia com narrativas e tramas convincentes e personagens poderosos.

Marie Camargo, a bainha da saia e as sapatilhas

Marie Camargo foi a bailarina que tirou as mulheres do chão. Com a mudança do ballet dos salões de baile dos palácios reais para os palcos, a linha de visão também mudou, exigindo que os bailarinos projetassem as frentes de seus corpos para o público. Para isso, eles desenvolveram o en dehors.

O en dehors permitiu o surgimento de novos passos, mais difíceis, com saltos e batidas. Este novo estilo foi chamado de danse d’elevation (dança de elevação), e separava o amador aristocrático do bailarino profissional, que era treinado para desenvolver o en dehors e executar passos virtuosísticos que só eram vistos no teatro.

Camargo arrasava nos novos passos, mas seus sapatos de salto atrapalhavam muito sua performance e as saias longas tornavam difícil para qualquer um ver o que seus pés faziam. Então, ela removeu os saltos dos sapatos e — pasmem! — subiu a bainha de sua saia. Seu brilhante petit allegro, então facilitado e tornado visível, expandiu o alcance da bailarina.

Nem todo mundo considerou o ballet d’elevation uma coisa boa. Muitos acharam uma forma vulgar de exibição de atletismo. Mas nós mulheres sabemos bem que o adjetivo “vulgar” é usado muitas vezes para nos controlar. Marie sabia disso também, e não se deixou abater.

Marie Taglioni e a sapatilha de ponta

Marie Taglioni não foi a primeira mulher a dançar na ponta, mas foi ela quem refinou o que havia sido um mero truque, transformando-o em uma genuína expressão artística. A partir do primeiro ballet inteiramente na ponta, La Sylphide em 1832, ela liderou a era do Ballet Romântico e se tornou uma superstar.

Na era Romântica, a arte, a poesia e a música celebravam a beleza, a paixão, a natureza e, claro, o poder do amor. Os ballets da época tipicamente retratavam encontros apaixonados e trágicos entre um homem mortal e uma mulher sobrenatural — personagem que simboliza beleza, natureza, amor e imortalidade.

A dança nas pontas permitiu que a bailarina retratasse de forma convincente esses personagens de outro mundo. Mais que um outro feito virtuoso, a dança nas pontas foi um meio de enriquecer o drama, expandindo a personagem feminina, elevando a bailarina a seu papel de destaque atual no ballet.

Misty Copeland e a luta contra o racismo

A luta das mulheres no ballet não ficou no passado. Saltamos para o século XXI. Já conquistamos nosso lugar nos palcos, nosso direito de nos expressar, de usar figurinos adequados para a dança e subimos nas pontas. Mas e como fica a representatividade?

Misty Copeland fez história ao se tornar a primeira bailarina principal afro-americana no prestigioso American Ballet Theatre. Misty teve uma trajetória bastante incomum no ballet. Sua primeira aula foi aos 13 anos, o que é considerado muito tarde para se profissionalizar.

Mas seu talento não deixava dúvidas: com apenas 3 meses de aulas, ela já começou o trabalho em ponta. Aos 18, entrou no ABT e, durante mais de 10 anos, foi a única bailarina negra da companhia.

“Inicialmente, eu não entendia a magnitude de ser a primeira. Eu morria de vergonha de falar em público mas, quando as pessoas começaram a se identificar com a minha história, eu entendi que não podia ficar parada, que minha voz tinha que ser ouvida”.

Misty defende a diversidade no ballet, e acredita que é muito importante que as pessoas, sobretudo crianças, vejam uma bailarina negra e saibam que isso é normal.

Hoje, ela percebe que sua carreira é bem maior que ela própria. Que ela deve respeito e reconhecimento a todos os dançarinos do passado, que abriram o caminho para ela. E deseja permitir que as novas gerações possam sonhar, que possam se ver no Metropolitan Opera House, num espaço que eles nunca pensaram poder ocupar.

Nossa homenagem a… vocês!

Bailarinas de todas as idades, cores, corpos e experiências.

Mulheres que muitas vezes coordenam emprego, estudo, filhos, responsabilidades mil; que por vezes se sentem inseguras com seus corpos, com suas qualidades técnicas, com sua idade; mulheres que sonham, que se esforçam, que batalham, que sempre aparecem para fazer aula e que se superam dia após dia.

Mulheres que se apoiam, que vibram com as conquistas das colegas, que ajudam as que estão tendo dificuldades, que riem juntas, enfim, que fazem nossa experiência no ballet ser tão especial.

Ainda temos um longo caminho no que diz respeito à representatividade, ao body shaming, aos padrões de magreza inalcançáveis para muitas, à competitividade tóxica, aos estereótipos — mas sinto que o ballet adulto está rompendo muitas dessas barreiras. E vocês são responsáveis por isso.

Muito obrigada a cada uma de vocês. Vamos juntas!

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