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Mãe e bailarina – parte 1

Mãe e bailarina – parte 1

Sempre que eu penso em engravidar, uma pergunta vem à minha mente: e o ballet? Como vai ser? Vou conseguir continuar dançando depois de ter filhos? É possível ser mãe e bailarina ao mesmo tempo? 

Existe ballet após a maternidade?

Essa pergunta já passou pela sua cabeça?

Foi a partir dessa dúvida e inspirada pelo dia das mães que resolvi fazer essa entrevista. Quem melhor para responder essa pergunta que elas: as mães bailarinas? Conversei com sete mulheres, de diferentes lugares do Brasil (e de fora dele!). Confira abaixo o que elas me contaram:

> A gravidez da bailarina

Cada mulher é diferente, e como era de se esperar, cada gestação também. Tem aquelas bailarinas que continuam dançando até o último dia antes do parto, tem as que decidem pegar mais leve em alguns exercícios, tem as que optam por uma pausa e as que precisam de parar por razões médicas.

Entre as sortudas está a bailarina adulta e pós-graduanda em Dança e Consciência Corporal, Thiana Calmon. Já na 36ª semana de gravidez (no momento da entrevista), ela continua dançando em média 8 horas por semana, entre ballet, jazz e contemporâneo – apenas 4 horas a menos do que estava acostumada antes de engravidar.

mãe e bailarina adulta Thiana Calmon
Thiana Calmon grávida de Isadora

De vez em quando, ela tem que descansar um pouco no meio da aula. Depende se ela dormiu bem à noite, da posição da bebê na barriga, e às vezes a Isadora (seu nome foi inspirado em Isadora Duncan) resolve mexer no meio do exercício! “Normalmente, durante o movimento mesmo ela fica quietinha, quando paro ela se mexe. Parece que gosta de estar em movimento”. Será que vem uma nova dançarina por aí?

A professora de ballet Talita Brasil descobriu que estava grávida apenas um mês depois de inaugurar seu próprio estúdio de dança. Lidar com o início de um novo empreendimento e a gravidez ao mesmo tempo foi um desafio: na época das apresentações, que tiveram que ser adiantadas em um mês, ela já estava prestes a dar à luz. “Quando passou a última apresentação, eu dei tchau para as aulas e fiquei em casa, esperando a hora”. 

mãe e professora de ballet Talita Brasil
Talita Brasil grávida de Maria Cecília

E quando o repouso é necessário?

Para quem está acostumada a dançar a vida inteira, muitas vezes desde criança, e se vê obrigada a parar bruscamente, o repouso médico pode se mostrar um grande desafio mental e emocionalmente. Quatro das sete mães bailarinas entrevistadas tiveram que parar de dançar por algum tempo durante a gravidez.

Ana Yazlle, diretora artística de uma escola de ballet em São Paulo e profissional de marketing, dançou dos 4 anos de idade até os 7 meses de gravidez, quando foi surpreendida por uma infecção urinária forte e quase entrou em trabalho de parto prematuro – “foi um super susto!”. 

Felizmente, a situação se resolveu, e os médicos inclusive a liberaram a fazer mais aulas, mas o desconforto continuou e ela resolveu parar. “Tive um aborto espontâneo antes dessa gestação, então ouvi meu corpo e foquei na gravidez”.

ana yazlle gravida
Ana Yazlle grávida de Helena

Mas nem todo mundo passa por esse momento com tranquilidade. “O período do repouso foi o mais triste da minha vida”, desabafou Tatiana Mielczarski, que é professora de ballet em Porto Alegre, RS. Aos 6 meses e meio de gravidez, ela se sentiu mal durante uma aula e descobriu que a Nina queria nascer antes do tempo. O resultado: um repouso completo por 2 meses, sem poder nem mesmo subir ou descer escadas. “Foi bem ruim ficar em casa esse tempo”.

Depressão na gravidez

Infelizmente, a depressão gestacional e no pós-parto também são uma realidade, e devem ser tratadas e observadas com cuidado. Isso fica ainda mais difícil quando há a necessidade de repouso. Mas tomados os devidos cuidados, há como administrar a situação.

Poliana Brzezinski, uma professora de ballet matogrossense que morava na Bolívia, começou a ter pensamentos negativos durante a gravidez de Rafaella, sua filha mais nova. No 4º mês de gestação, ela teve que parar de dançar para evitar entrar em trabalho de parto prematuramente.

O diagnóstico de depressão foi o ponto de partida para a recuperação de Poliana, que acabou ajudando outras mães que passavam por situações semelhantes. Ainda de cama, ela teve ideia de criar o projeto Maternidad en Movimiento (Maternidade em Movimento, em português).

mãe e professora de ballet Poliana Brzezinksi
Poliana Brzezinski e Rafaella

Com ajuda de sua mãe, que é fisioterapeura, ela começou a estudar para descobrir quais exercícios do ballet são seguros para grávidas e para o pós-parto. “Comecei a procurar exercícios para parto e tudo o que envolvia o mundo da gravidez, e comecei a fazer uma apostila com todos esses movimentos”. 

Um mês depois que Rafaella nasceu, Poliana voltou a dar aulas de ballet e colocou seu projeto em prática. “No começo, eram só aulas de ballet para grávidas e mulheres no pós-parto, mas depois virou uma rede de apoio para mulheres em depressão, mulheres que não estavam felizes em estar grávidas ou em ser mães”. 

De lá para cá, ela se mudou de país, e uma amiga continua este trabalho na Bolívia. Hoje, ela mora na Colômbia e desenvolveu seu próprio método de baby ballet, para crianças a partir de 1 ano de idade (e suas mães!), que ensina na sua própria escola.

Dançando com a barriga

Atenção: sempre peça orientações ao seu obstetra antes de realizar qualquer exercício durante a gravidez, e faça acompanhamentos médicos frequentes. Se sentir qualquer desconforto, pare a atividade imediatamente e entre em contato com seu médico.

Algumas queixas são frequentes entre bailarinas grávidas:

  • A perda do eixo e do equilíbrio é bastante comum, mas o contrário também existe: há quem diga que conseguia girar mais facilmente com a barriga!
  • Dançar na ponta também vira um desafio novo, tanto pelo eixo deslocado quanto pelo peso. “Parecia que era a primeira vez que eu subia na ponta” – Talita.
  • Saltar também vai ficando mais complicado, à medida que a gravidez avança e a barriga cresce, pois o impacto aumenta. 

É comum que os médicos incentivem a mãe bailarina a continuar dançando durante a gravidez. Além de ajudar a manter o condicionamento, o exercício também contribui para relaxar e aliviar a tensão.

bailarina grávida Thiana
Thiana Calmon grávida de Isadora

Mas, mesmo com o aval do médico e tomando todas as precauções, às vezes imprevistos acontecem. Vanessa Machado, uma pedagoga de Sorocaba, teve um descolamento de placenta durante uma apresentação e precisou de ir correndo para o hospital, de figurino e tudo. 

Felizmente, depois de muitos exames, foi constatado que a Alice estava bem, e a partir daí ela fez um longo repouso. Após um tempo e seguindo as orientações médicas ela pode voltar a dançar, evitando impactos.

>> Clique aqui para conhecer mulheres fortes que mudaram o rumo do ballet

> O pós-parto e a volta ao ballet

A rotina com um bebê (sobretudo um recém nascido) em casa fica muito diferente. As atenções estão todas voltadas para aquele serzinho que acabou de chegar no mundo, e precisa de todo o cuidado. O amor de mãe cresce exponencialmente. Mas e o amor pelo ballet? Vai embora? Geralmente, não.

Algumas pessoas sentem a necessidade de voltar a dançar o quanto antes, e outras esperam um pouco mais. Ter uma rede de apoio para ajudar nos cuidados com a criança fazem toda a diferença nessa hora.

O repouso correu suavemente para Ana, mas depois que Helena nasceu, ela já estava desesperada para voltar a dançar. Um mês depois do parto, com o apoio do marido, que ficava com a bebê, ela já estava de volta às aulas, mas seu corpo parecia bastante estranho. “Eu achava estranhíssimo fazer arabesque, por exemplo”. Sua professora a incentivou muito, e ela logo voltou a fazer 3 a 4 aulas por semana. 

O corpo muda após a gravidez (de algumas mulheres mais, de outras menos), e numa dança tão técnica como o ballet clássico, é natural que a bailarina perceba essa mudança com mais nitidez. O tempo que ela passa parada, sem fazer atividades físicas, também influencia bastante na hora de voltar.

Tatiana também voltou do repouso com muita empolgação. Ela ficou 7 meses parada – 2 de repouso absoluto e 5 de licença maternidade. Quando retornou à escola, estava acontecendo um curso novo de jazz, e ela se jogou com tudo na aula: “meu corpo, minha mente, minha alma estavam ansiando por aquilo há muito tempo, então quando aconteceu, óbvio: me lesionei”. 

Ela acabou só conseguindo fazer o primeiro dia do curso, e passou os outros sentada, assistindo, com uma bolsinha de gelo. Mas isso não a abalou: “eu estava feliz com meu retorno”.

Tatiana Mielczarski e sua filha
Tatiana Mielczarski e Nina

Vanessa voltou a dançar quando Alice já estava com 2 anos. A volta foi aos poucos, sem muitas cobranças. “Voltei com uma nova cabeça, agora o foco não era mais excelência mas sim o cuidado com o meu corpo e a dança passou a ser o meu momento. O momento que eu me permito, o momento só meu, onde eu posso me concentrar, cuidar do corpo e da cabeça, para além da maternidade”. 

O importante mesmo é não se deixar de lado.

Não é fácil deixar seu bebê em casa, mas ao mesmo tempo é importante você estar bem e feliz para exercer a maternidade em sua plenitude. E é o que dizem: as mães são poderosas, a gente descobre uma força gigante dentro da gente” – Ana Yazlle

Mãe e professora de ballet

A sensibilidade aflorada e muitas vezes o sentimento de culpa passam a fazer parte do dia a dia da nova mãe. A volta ao trabalho, frequentemente uma necessidade, pode ser turbulenta. 

Quando Talita voltou a dar aulas, Maria Cecília, que estava com três meses, foi com ela: uma pessoa fica com a bebê no escritório enquanto ela dá aulas, e ela reduziu os horários para poder amamentar. 

Voltar a trabalhar não foi fácil emocionalmente. “Eu me pegava me achando uma péssima mãe por ter que me dividir entre ela e o trabalho em um período que tanto ela precisava de mim, e da minha presença. A gente, mãe, se cobra muito!“. Só que com o passar das semanas, Talita foi ficando mais tranquila, e dar aulas a fazia relaxar e esquecer os problemas. “A dança tem disso, né?”

Talita com sua filha Maria Cecília
Talita Brasil e Maria Cecília

Tatiana também diminuiu o número de aulas para ficar mais tempo com a filha. “Não esperei tanto tempo [para engravidar] para não curtir e me dedicar à filhota. E a dança vai estar sempre aí! E a infância da filha, não. Passa muito rápido.”

Há também quem leve o bebê para dentro da sala de aula

Quando Samuel, o filho mais velho de Poliana nasceu, ela voltou a dar aulas logo no mês seguinte, e ele sempre ficava com ela, dentro da sala de aula. “Ele ficava no carrinho vendo a aula, ou então eu fazia um chiqueirinho com almofadas e brinquedos e ele ficava sentadinho”. 

Ela percebeu que a música clássica e a contagem dos passos acalmava o bebê. Deu tão certo, que Poliana fez o mesmo com a filha mais nova, Rafaella.

> E você? Quer engravidar?

Pedi dicas e conselhos para as mães bailarinas, para você, bailarina que pensa em ser mãe. Aqui estão:

Respeite seu corpo e seu tempo, mas não deixe de dançar. Os filhos são a maior alegria da nossa vida e terão orgulho da mãe bailarina que você se tornar.” – Ana Yazlle

“A maternidade é um impacto bem grande pra qualquer profissional. Sem o bebê, somos donas dos nossos horários, podemos ficar ensaiando enquanto a mente aguentar, a rotina da casa é mais solta, mais livre. Depois da chegada da criança, a rotina muda – além de tudo o que já fazíamos antes, a energia fica mais direcionada. Muda radicalmente a vida da bailarina.” – Tatiana Mielczarski

“Na gestação, continue a trabalhar, a fazer o que ama! Fazer os exercícios no Ballet ajuda muito no físico e mente nesse momento. Conviver com os alunos e continuar dançando e vivendo a gestação foi maravilhoso, deixou mais leve a espera pela chegada da minha Maria Cecília.” – Talita Brasil

Não precisa ter medo! Na maioria dos casos é possível continuar dançando. É importante seguir os conselhos médicos e também a própria intuição. Pra mim foi muito importante continuar em movimento.” – Thiana Calmon

“Se a dança já está no seu cotidiano, aproveite todos os benefícios que ela pode te dar! Desde o alívio da ansiedade até o respeito e entendimento do próprio corpo. Momentos de maior dedicação ao bebê serão indispensáveis, mas não se esqueça de você mesma!” – Vanessa Machado

> Ainda tem mais…

Clique aqui para ler a segunda parte da entrevista, sobre como é dançar com os filhos. Está imperdível!

mãe e bailarina adulta Vanessa Machado e sua filha Alice
Vanessa Machado e Alice

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