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Mãe e bailarina – parte 2

Mãe e bailarina – parte 2

Esta é a segunda parte de uma entrevista com mães bailarinas. Se você ainda não leu a primeira parte, clique aqui, e confira informações sobre a gravidez da bailarina e o pós-parto e volta ao ballet, além de dicas para quem dança e quer engravidar.

Dançando com os filhos

Que mãe não gostaria de dividir sua paixão com os filhotes? Essa é a realidade de várias de nossas entrevistadas. 

Helena, filha da Ana, faz ballet desde os 3 anos de idade e já está no Grade 1 da Royal

Samuel, o filho mais velho da Poliana, começou a dançar com 6 anos, aos 8 parou por um tempo, mas depois voltou. Rafaella, sua filha mais nova, também dança ballet desde quando era bem pequenininha, junto da mãe, dentro do sling!

Nina, filha da Tatiana, começou a dançar no ano passado, com 4 anos e meio.

Tatiana conta que teve que lidar com as expectativas das outras pessoas, que queriam que a Nina começasse a dançar ainda mais novinha. De acordo com ela, tem muita fantasia e projeção por parte das pessoas, que acham muito fofo uma bebê de tutu rosa dançando. Mas ela se manteve firme: “Não quer dizer que por que ela é menina e filha de bailarina que vai gostar de dançar ballet. Não acho que ballet é para todo mundo; é uma técnica bem específica, nem todo mundo gosta. E também exige uma dedicação que nós sabemos que é bem grande. Eu sempre falava ‘ela vai dançar se ela quiser’“.

mães bailarinas
Tatiana Mielczarski e sua filha Nina

Além disso, ela acredita que uma menina de 3 anos não está interessada em fazer uma aula formal, numa sala diferente e com pessoas diferentes. “Ela quer geralmente brincar de dançar“.

Mas o momento chegou: no Natal, o grande presente da Nina foi a roupinha de ballet, que ela adorou. “Foi uma conquista. Nunca quisemos banalizar a coisa, já que era tão comum pra gente”. Hoje Tatiana dá aulas para a filha na escola em que trabalha, em Porto Alegre.

Filho de bailarina…

Bailarino é? Nem sempre.

Vanessa chama a atenção para um fato importante: cuidado com a projeção dos nossos desejos nos filhos, sobretudo meninas.

Quando Alice tinha 2 anos, Vanessa voltou a dançar, e a levou com ela. As duas dividiram a escola de ballet por vários anos (cada uma em sua turma), até que um dia Alice, já com 7 anos, começou a chorar antes de ir para a aula e não parou mais. Foi depois de muita insistência da mãe que ela desabafou: não gostava de ballet, e só dançava para fazer a mãe feliz.

Vanessa nunca tinha imaginado isso, e ficou chocada com o fato. “Eu já sentia um pouco de desmotivação dela, mas entendia que poderia ser preguiça, que não queria deixar de brincar em casa para ir na aula. Afinal, quando chegava na academia, ela parecia estar curtindo!“. 

A partir desse dia, Alice saiu das aulas de dança e Vanessa passou a estar ainda mais atenta às suas reações, a fim de entendê-la melhor. “Eu acho que o meu erro foi não ter apresentado outras possibilidades para ela. Até então eu não a tinha levado para conhecer outras modalidades de atividades que pudessem despertar o seu próprio interesse. Dançar era o meu interesse!”

mães bailarinas
Vanessa Machado e sua filha Alice

E quando é ao contrário?

Natália Rabelo, uma artesã de Fortaleza, Ceará, havia dançado ballet durante a infância, mas parou aos 12 anos de idade. O ambiente hostil, a competição e até o racismo fizeram com que ela se afastasse da dança por 15 anos.

Quando Flora, sua filha mais velha estava com 6 anos, sua professora de ballet da escola convencional sugeriu que ela entrasse em uma academia de dança, para que pudesse evoluir mais como bailarina. Porém, Natália ficou preocupada. E se a filha passasse pelas mesmas situações traumáticas que ela?

Foi aí que ela decidiu se matricular em uma escola, para ver se o ambiente era adequado para a filha — “E assim, eu retornei!”. Natália ficou seis meses frequentando as aulas, conhecendo as pessoas e analisando tudo. Ela se matriculou em uma turma de adultos iniciantes e sua paixão pelo ballet reacendeu. Depois desse período de testes, ela matriculou a filha na mesma escola. 

Mãe e filha continuam dançando juntas desde então. As duas entram na aula no mesmo horário. Enquanto a mãe faz a segunda aula do dia, Flora, hoje com 9 anos, aproveita o tempo livre para fazer a tarefa de casa, tomar banho e jantar ou mesmo para assistir à aula da mãe. 

Conciliar os horários das duas faz toda a diferença, tanto para evitar fazer múltiplas viagens ao mesmo lugar, como para dar algum apoio para a filha, quando necessário, especialmente quando a filha era mais nova. “Em alguns episódios ela precisou contar comigo. Estou sempre nessa dupla função: estou na aula de ballet, mas estou como mãe também”.

Dividindo o palco

Um dos momentos mais emocionantes para as mães bailarinas entrevistadas é ver seus filhos no palco.

⁠Na primeira apresentação da Nina, no final do ano passado, Tatiana estava lá no palco, no cantinho, dançando a coreografia com ela e as outras alunas.⁠ 

Depois de muitos anos, sua família veio em peso para assistir o espetáculo, e até seu pai se emocionou em ver a filha e a neta no palco, dançando juntas. Nina ganhou muitas flores e adorou receber toda aquela atenção especial — “Mamãe, eu amei! Quero de novo!”.

Chegando em casa, Tatiana chorou de felicidade, de alívio por ter dado tudo certo, pela filha ter participado e principalmente por estar com ela no palco. Foi uma experiência inesquecível, que ela espera que se repita várias vezes. “Vamos ver. Cenas dos próximos capítulos!”

Assistir a primeira apresentação da Helena também emocionou muito sua mãe, Ana. “Chorei como se não houvesse amanhã!”. 

O primeiro exame da Royal também foi muito emocionante. “A mesma professora que me treinou para os meus exames estava ensinando ela. Foi muito legal ver isso, da coisa passando por gerações“.

Ano passado também foi a primeira vez que ambos os filhos de Poliana se apresentaram. Adivinha se ela se emocionou? “Chorei de emoção de ver meus dois filhos dançando na mesma apresentação”.

Nas coxias

Mães e filhas bailarinas também se encontram atrás do palco.

Helena faz aulas na escola da mãe, Ana, e bate ponto em toda apresentação, inclusive ajudando nos camarins e na coxia. “Família inteira no espetáculo!”

mães bailarinas
Ana Yazlle e Helena nos bastidores da apresentação Don Quixote. Ao fundo, vemos outras mães com suas filhas bailarinas. Foto de Welton Nascimbene.

Natália chama a atenção para o fato de dançar no mesmo espetáculo que a filha é emocionante e desgastante ao mesmo tempo. Isso porque ela está sempre desempenhando a dupla função: mãe e bailarina. Nem sempre dá pra acompanhar tudo.

Ela também fica um pouco frustrada por não conseguir assistir a filha da plateia, mas só pelas coxias. Em uma apresentação de Coppélia, Natália teve que trocar de figurino três vezes, o que acontecia às vezes durante a apresentação da Flora. “Me senti muito feliz e realizada por estar lá e ela também, e vi da coxia o quanto ela sorriu, se divertiu e aproveitou aquele momento. Mas também fiquei com aquele sentimento de culpa por não estar com ela quando ela foi entrar no palco”.

No primeiro dia, Natália conta que fez questão de acompanhar a filha em tudo, e até deixou para se maquiar nos últimos minutos. Já, no segundo dia, ela não viu Flora dançar, e a filha percebeu: “mamãe, a senhora não me viu dançando, eu errei”. 

Os sentimentos ficam muito divididos “são milhões de emoções e quando tudo acaba, parece que passou um trator em cima de você”.

Por ser bailarina na mesma escola da filha, Natália também acaba ajudando outras mães, que se sentem mais seguras em saber que ela está lá nos bastidores com as crianças “todas pegaram meu telefone e pediram ajuda. Foi uma experiência muito legal”.

A filha mais nova de Natália, Alice (4 anos), também dança ballet na escola, e fica encantada em ver a mãe e a irmã dançando no mesmo palco. “Ela sempre assiste tudo até o final, nem pisca, e sabe as horas em que a Flora e eu entrávamos; sabe de tudo”. Ela também fala que, quando crescer, vai ser bailarina profissional.

E se eles quiserem parar?

A resposta para essa pergunta foi unânime: “eles param, sem problemas”. O respeito aos desejos e escolhas dos filhos é uma constante entre as mães bailarinas entrevistadas. 

Mãe e filha bailarinas
Poliana Brzezinski e sua filha mais nova, Rafaella.

Mas elas também sabem que, em alguns momentos, a pessoa não quer realmente desistir, só precisa de motivação

Em sua carreira como professora de ballet, Tatiana já vivenciou esse tipo de situação várias vezes. “O que eu noto na minha experiência é que se for uma paixão genuína, se o mosquitinho da dança picar aquela pessoa, ela para por um tempo e depois volta“. 

Ela sempre aconselha as mães a insistir e mostrar como o futuro da dança pode ser legal, entre a superação dos desafios e a experiência de se apresentar em um palco e sentir o carinho do público. “Acho legal insistir um pouco, porque às vezes a desistência é por uma dificuldade que vai se resolver dali a pouco“. Se esse dia chegar, ela vai falar o mesmo para Nina.

Dica extra: como escolher a escola do filhos?

Pedi às mães bailarinas dicas para escolher a escola de dança dos filhos. Vejam as respostas abaixo:

“Se eu não fosse professora de ballet, eu procuraria um lugar que tenha todas as qualificações reais para que minha filha aprenda ballet e seja feliz dançando. E onde ela aprenda realmente ballet. Técnica. Ballet não é creche, é disciplina, até mesmo no baby ballet. Resumindo: aconselho que procure uma professora que realmente saiba de ballet e que sua filha entre e saia feliz da aula.” – Poliana Brzezinski

Pesquise sobre o profissional que será professor do seu filho, observe a estrutura da academia, especialmente o espaço físico da sala de aula.” – Vanessa Machado

Não tem uma receita. O que eu acho que é certo pra minha família às vezes não é pras outras. Se você quer colocar seu filho (meninos fazem ballet!) ou sua filha, procure conversar com a direção, conhecer a professora, se possível assistir uma aula antes e estar sempre presente. Você tem que estar presente, tem que participar, não tem outra saída.” – Natália Rabelo

“Sempre a melhor coisa é indicação – é procurar pessoas que conhecem a escola, que têm alguma referência. Se tiver uma amiga que teve uma filha que estudou lá, perguntar o que ela achava, ou de preferência ter indicação até de profissionais. A maioria das famílias não tem conhecimento de ballet. Ir até a escola, ver o espaço físico e conversar com a direção não vai dar a real dimensão de como é o trabalho da escola. Então acho que a indicação é o melhor caminho.” – Tatiana Mielczarski

Pesquise bastante. Há excelentes escolas no Brasil todo. É importante conhecer o histórico e currículo de diretores e professores, qual metodologia usam, como são os espetáculos de que participam. Eu avalio até o tema escolhido, se faz sentido para a forma como eu vejo a arte e o que eu gostaria que minha filha tivesse em seu próprio repertório artístico e cultural.” – Ana Yazlle

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